terça-feira, 21 de julho de 2009

Estudo mostra relação entre câncer na infância e tabagismo

São Paulo - Tentar descobrir por que uma pessoa que teve câncer resolve adotar um hábito que comprovadamente pode predispor ao problema motivou a psiquiatra Célia Lídia da Costa a pesquisar a incidência de tabagismo em pessoas que se recuperaram de câncer na infância. Diretora do Grupo de Apoio ao Tabagista do Hospital A.C. Camargo, em São Paulo, há cerca de cinco anos ela iniciou a pesquisa com 278 adultos, que será publicada na revista "Public Health". Cerca de 31% fumam ou fumavam. O resultado surpreende quando se compara o índice com a média da população fumante no Brasil - segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca), 18%.O espanto pode ocorrer com os leigos. Para Célia e outros especialistas, a contradição é apenas aparente. A psiquiatra diz ser comum as pessoas que sofreram de câncer apresentarem distúrbios como ansiedade ou estresse pós-traumático. "Esses problemas acometem grupos como sobreviventes de guerra ou tragédia e vítimas de sequestro." Superar o câncer seria parecido.O fumo seria o atalho para suavizar esses sintomas. "Quando o indivíduo percebe que o cigarro ajuda a controlar depressão, ansiedade e outros problemas, vê que não consegue viver sem ele " Diretor da Associação Brasileira de Especialistas em Situações Traumáticas (Abrest), Eduardo Ferreira-Santos diz que o hábito de fumar está ligado à ansiedade. "Estudos mostram que a nicotina tem efeito calmante", afirma o psiquiatra, que hoje está aposentado do Hospital das Clínicas e é o autor de um livro sobre o transtorno de estresse pós-traumático em vítimas de sequestro."O fato é que o câncer predispõe (ao estresse). Mas, muitas vezes, a ansiedade é maior que o medo da reincidência. Por isso, as pessoas podem racionalizar: 'se eu já tive uma vez, dane-se' " Segundo ele, o pensamento de que uma pessoa que vivenciou um sofrimento irá aprender com ele e evitar sua repetição nem sempre ocorre. Mesma opinião da psicóloga Rosaly Braga Campanini, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp)."O ser humano é contraditório e muitos não conseguem ver essa lógica (quem sofreu não quer sofrer de novo). Não somos sempre tão racionais."
Humberto Maia Junior
Fonte : notícias Uol

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Empresas brasileiras estão mais dispostas a combater o cigarro

Para Barreiros, gerente de saúde e qualidade de vida da Philips, o retorno da campanha anti-fumo vale o investimento
Publicado originalmente emPor Margareth Boarini, para o Valor, de São Paulo30/05/2008

Dos 4.300 funcionários da unidade de Tubarão da ArcelorMittal, apenas 1,6% fumam. O resultado é reflexo de um trabalho intenso de combate ao tabagismo iniciado pela empresa há 16 anos, que virou benchmarking para unidades do grupo dentro e fora do país. O esforço da companhia nesse sentido é tanto que o índice de sucesso, que sinaliza quantas pessoas após o tratamento não voltam a fumar, chega a 70%. Na Johnson & Johnson, esse percentual é de 60%. Primeira empresa no Brasil a obter o selo de ambiente livre de tabaco, a companhia ampliou a batalha contra o tabagismo depois que a matriz norte-americana solicitou a todas as filiais que trabalhassem de forma mais firme nesse sentido.Assim como nessas duas empresas, o desafio de abandonar o cigarro passou a ser oferecido dentro do local de trabalho, com grande parte dos custos bancados pelos próprios patrões. Uma ampla pesquisa realizada pelo laboratório Pfizer em 14 países coloca os empregadores brasileiros entre os mais dispostos a intensificar o apoio e a assistência aos colaboradores que querem dizer adeus ao cigarro, com 87%. Na frente dos brasileiros, apenas os indianos, com 91%. Batizado de Global Workplace Survey, o estudo levou onze semanas para ser concluído. Foram entrevistados 3.515 colaboradores adultos fumantes e 1.403 empregadores de empresas com mais de cem funcionários no Brasil, Índia, China, França, Alemanha, Itália, Japão, Polônia, Coréia do Sul, Espanha, Suécia, Tailândia, Turquia e Reino Unido.Conduzida pela Harris Interactive, a pesquisa se propôs a investigar atitudes e opiniões de empregados e empregadores com relação ao cigarro e ao abandono do tabagismo. A intenção era mostrar o perfil e a aceitação do fumante no ambiente de trabalho, as responsabilidades na cessação do tabagismo, impacto do fumo na produtividade individual e no negócio, política interna relacionada ao ato de fumar, acesso às estratégias para parar de fumar e a existência ou não de fumódromos. No Brasil, o questionário foi aplicado em companhias dos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Pernambuco, Paraná e Rio Grande do Sul.O estudo apontou que fumar é algo fora de moda. Para 98% dos empregadores e 95% dos funcionários é inaceitável fumar no ambiente de trabalho. Eles também concordam que ter um ambiente livre de tabaco, fumódromos e políticas internas antitabagistas ajudam muito, mas acreditam que apenas essas medidas não são suficientes. A percepção é que as empresas precisam ser mais pró-ativas e ter ações compartilhadas com grupos de ajuda e fundações, por exemplo. Na visão das empresas, 87% delas deveriam ajudar na cessação do tabagismo, enquanto para os colaboradores este índice é de 69%.O combate ao cigarro sempre integrou programas de promoção da qualidade de vida no mundo corporativo, mas o fato de o vício embutir um risco alto de desenvolver doenças graves e causar absenteísmo, queda na produtividade, fez com que o tema ganhasse evidência. Monitorar a saúde e prevenir problemas amplia a produtividade e melhora a relação empresa/funcionário. O que aparece no clima organizacional e reduz os custos com seguro-saúde. "Muitas empresas, geralmente pequenas e médias, ainda desconhecem que podem contar com a orientação de secretarias de saúde de suas cidades e não oferecem uma ajuda mais completa nesse sentido, mas isso é questão de tempo, porque a disseminação da prática de hábitos saudáveis entre os colaboradores é cada vez mais latente", afirma o médico Alberto Ogata, presidente da Associação Brasileira de Qualidade de Vida (ABQV). Tão latente que em muitos processos de seleção e recrutamento a questão da atividade esportiva e do cuidado dispensado com a saúde passou a ser incluída e muito valorizada, segundo o headhunter Ricardo Bevilacqua, diretor-geral da consultoria Robert Half no país.A própria Pfizer, que encomendou a pesquisa, decidiu desenvolver um programa de apoio há dois anos, quando preparava o lançamento de um produto nessa área. Realizou uma pesquisa entre funcionários e familiares para saber quantos fumavam e qual a percepção que tinham do tabagismo. A partir daí, criou uma campanha de conscientização dos benefícios com o fim do vício. "Tomamos cuidado para deixar claro que parar de fumar é uma decisão da pessoa e que respeitávamos o momento de cada um. Queríamos mostrar que quem quisesse parar poderia contar com a ajuda da empresa", afirma Lizandra Ambrózio, gerente de benefícios da área de recursos humanos. No ano passado, o programa da Pfizer foi oficialmente lançado e desde então 308 colaboradores já passaram por ele. O índice de sucesso está em 58%.O combate ao tabagismo dessas grandes companhias não se dá apenas com folhetos educativos. Geralmente, contam com equipes multidisciplinares compostas por médicos, psicólogos, nutricionistas, enfermeiros, que realizam consultas pessoais, sessões em grupo e fornecem medicamento, chiclete ou adesivos, de acordo com a decisão conjunta do médico e paciente. Na maioria dos casos eles são extensivos aos familiares. Os programas também têm em comum a sugestão da empresa para o funcionário explorar mais a área de qualidade de vida da companhia, seja com práticas esportivas, leitura ou outras atividades que o afastem do cigarro."O valor do investimento neste programa é muito baixo. Aqui na Philips, nos últimos três anos foi da ordem de R$ 45 mil. Nada se comparado com o alto retorno em ter funcionários mais saudáveis, motivados e crentes de que a companhia está do lado deles", afirma Renato Barreiros, gerente da área de saúde e qualidade de vida. A empresa preocupa-se com o tema desde 1984. A partir de 1991, percebeu que apenas a simples prevenção não bastava e concebeu um projeto mais completo até ganhar em 2005 a forma que tem hoje. Batizado de Programa AntiTabagismo e validado pela Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo ele é voltado para as unidades de SP e Capuava. Desde o segundo semestre do ano passado, a Philips vem estendendo o programa para as demais unidades.O fumante que opta em participar do programa não gasta um centavo com medicamento, bancado integralmente pela empresa. No caso de não conseguir parar de fumar, o funcionário pode recomeçar o tratamento quando quiser. O mesmo acontece na ArcelorMittal. Segundo o médico Fernando Ronchi, gerente de medicina e saúde da unidade de Tubarão e coordenador do comitê de saúde da empresa para toda a América, não há forma mais eficaz de tratar do fumante a não ser com um tratamento multidisciplinar. "Dois anos atrás, criamos 34 áreas externas, delimitadas, para o funcionário fumar. Hoje, dos nossos 4.300 funcionários, apenas 69 fumam", conta o executivo.O apoio da empresa na cessação do vício é fundamental na visão do empregado. "Já havia tentado várias outras vezes, mas sem sucesso. Quando a companhia lançou o programa, eu me inscrevi e junto com mais dez colegas participava das sessões com as psicólogas. Estar perto dos amigos, dentro do local de trabalho e saber que a empresa apóia a decisão foi importante no processo", afirma Jucimara Rubini dos Santos, coordenadora de treinamento de vendas da Johnson & Johnson.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

São Paulo: Tribunal cassa sentença contra lei antifumo

O presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo, Roberto Vallim Belocchi, cassou ontem, ainda de forma provisória, uma das sentenças de primeira instância que anularam a proibição a fumódromos prevista na lei antitabaco criada pelo governador José Serra (PSDB). A lei começa a vigorar em agosto.A sentença suspensa foi concedida na semana passada pelo juiz Valter Alexandre Mena, da 3ª Vara da Fazenda Pública, e atendeu pedido da Abresi (Associação Brasileira de Gastronomia, Hospedagem e Turismo).Porém, continua em vigor outra decisão do mesmo juiz, mas em favor da Fhoresp (federação de bares, hotéis e restaurantes de SP), da qual o governo disse também tentar recurso.Nas decisões em favor das entidades, além de manter os fumódromos, o juiz suspendeu o artigo da lei que obriga o dono do estabelecimento a chamar a polícia quando alguém se negar a apagar o cigarro e cancelou a aplicação das multas previstas.Na ação, a Abresi argumentava que a lei não poderia banir os fumódromos porque eles são permitidos por lei federal.Na decisão de ontem, o presidente do TJ não faz considerações sobre qual dos dois lados está certo. Diz somente que, caso perdure a sentença de primeira instância, haverá uma "falsa expectativa de que a lei não entrará em vigência".
Fonte :
Folha de S.Paulo