terça-feira, 22 de junho de 2010

Papel do pai nos defeitos congênitos

Muito já foi escrito sobre como a mãe contribui para os defeitos congênitos do filho, seja por alimentação errada, fumo, bebidas ou drogas. Agora, os cientistas estão estudando o papel do pai. O fundamento é simples: defeitos congênitos resultam de óvulos ou espermatozóides danificados antes da fertilização. As futuras mães sempre foram avisadas que, fumando durante a gravidez, correm maior risco de ter um bebê com baixo peso. As advertências impressas nos maços de cigarros não mencionam que pais fumantes também podem ser a causa do baixo peso no recém-nascido. Um subproduto da nicotina no sêmen de fumantes talvez explique por que os fumantes geram filhos de peso baixo ao nascer. Além disso, existe a influência do fumar passivo, isto é, a fumaça de cigarro do marido respirada pela esposa grávida.

Um estudo realizado na Universidade de Boston mostrou que ratos machos — expostos ao óxido nitroso antes do acasalamento — produziam crias de menor peso e desenvolvimento mais lento do que as crias de machos não expostos ao gás.

Outra pesquisa, na Universidade de Maryland, revelou que ratos machos — expostos a níveis mínimos de chumbo — produzem crias com graves alterações no desenvolvimento cerebral. O mesmo estudo mostrou que crias de machos expostos à morfina tinham mais dificuldade em aprender.

Doses baixas cumulativas de radiação também podem provocar danos. Uma pesquisa realizada na Inglaterra constatou que os filhos dos operários da usina nuclear de Sellafield eram 8 vezes mais propensos a contrair leucemia do que as crianças cujos pais não trabalhavam na usina.

Os cientistas não sabem explicar todos os mecanismos que prejudicam os espermatozóides. Segundo uma das teorias, o sêmen, por sofrer divisões antes da ejaculação, é especialmente vulnerável à ação de produtos químicos e à radiação. O material genético contido nos espermatozóides pode ser prejudicado. Segundo outra teoria, produtos químicos tóxicos no sêmen podem passar diretamente para a mulher e prejudicar o óvulo ou o aparelho reprodutor.

Quaisquer que sejam os mecanismos, há provas suficientes para mostrar que as estratégias de saúde na área de reprodução não podem ignorar o pai. Na década de 70, o pesticida dibromocloropropano foi proibido quando ficou comprovado que causava esterilidade permanente em agricultores nos Estados Unidos e na Costa Rica. Considerações de ordem política explicam a relutância do governo norte-americano em aceitar a ligação entre exposição ao herbicida Agente Laranja (dioxina) e defeitos congênitos. Um estudo recente mostrou que os filhos de soldados que, no Vietnã, foram expostos ao Agente Laranja, tinham mais probabilidade de sofrer malformações (pé torto e problemas cardíacos) do que os filhos dos outros veteranos.

Fonte: The Economist, 23.02.1991

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